quarta-feira, outubro 11, 2006

Ontem assistimos, namorado e eu, a um espetáculo maravilhoso. Natalia Gutman, violoncelista russa, acompanhada do pianista, também russo, Viacheslav Poprugin. Natalia foi aluna do Rostropovich, o maior violoncelista vivo segundo Luciano Antunes. Apesar de ter cochilado na primeira peça, eu amei ver mais de pertinho aquela mulher tocar. Com o braço firme, os olhos fechados, ela tocava e não, não era nesse mundo que ela estava. Ela estava no mundo da música. Estava sozinha. Ela e o violoncelo. Mais ninguém parecia existir naquele momento. Nem o pianista que a acompanhava. Se ele deixasse de tocar, ela continuaria, leve, solta, tocando, tocando, tocando... De música eu não sou nenhuma boa entendedora. Eu gosto. Para mim, é o que basta. O pouco que sei, aprendi com o namorado. Tenho de admitir que ele melhorou muito minhas referências artísticas, como ele sempre diz. E ontem, assistindo àquela mulher de 64 anos tocar, eu senti inveja. Inveja boa, se é que existe. Hoje acordei pensando em como ela parecia feliz quando estava tocando. Aqui em Brasília e em tantos outros lugares de todo o mundo, ela se apresenta, sozinha, em recital, com orquestra. Ela e a música. A música e ela. Passei boa parte do dia hoje pensando em como eu queria chegar aos 64 anos fazendo alguma coisa que me dê prazer. Que me deixe feliz. Que seja essencial na minha vida. Podem me chamar de romântica, iludida, boba. Mas a sensação que eu tenho é que a arte, o esporte, eles são mais especiais. Quando vejo o grupo Corpo dançar, queria ser dançarina. Quando vejo as meninas do vôlei jogar nas Olimpíadas, meu sonho é ser jogadora. Quando vejo a Daiane dos Santos dando aqueles saltos eu penso, putz, por que não sei fazer algo assim tão bonito? Parece que eles têm um dom, uma vocação, um prazer que nós, jornalistas, professores, historiadores, engenheiros, funcionários públicos, essas profissões "normais", não temos. Eu queria fechar os olhos, tocar, tocar, tocar, tocar, e não ver o tempo passar. Chegar aos 64 anos com vontade de tocar e viver por mais uns 60 anos. Mas no fundo eu queria também saber como a Natalia Gutman é na vida real. Se é casada, separada, se tem filhos, se sente dor de cabeça, se é brava, calma ou reclamona, se ela se sente feliz, se sente saudades dos tempos em que era uma menina. O que mais gosta de tocar. Compositor preferido. Comida favorita. Porque ali, da primeira fila do teatro, eu a via como a pessoa mais feliz e realizada do mundo. Como se nada mais no mundo importasse a ela. Só a música. Queria isso pra mim. Será que dá tempo de largar o jornalismo e virar nadadora profissional? É um esporte. Porque pra música eu acho que não levo o menor jeito.

Um comentário:

Anonymous disse...

Amei, muito, o que vc escreveu. Penso igualzinho.
lu.